quarta-feira, 17 de março de 2010

PRÁTICAS PARA O MÊS DE SÃO JOSÉ


A Serva de Deus Madre Maria José de Jesus, carmelita descalça, possuía uma devoção especial a São José que era revigorada na quaresma com a prática de alguns exercícios espirituais e orações meditadas que estamos partilhando com você e sua família.



Dia 01 - Repetir muitas vezes – "Jesus, Maria, José!"
Dia 02 - Fazer muitas Comunhões espirituais.
Dia 03 - Fazer muitas pequenas mortificações .
Dia 04 - Fazer muitos atos de amor e oferecimento São José, recordar e honrar muitas vezes.
Dia 05 - A agonia de Jesus no horto, o tédio, pavor e tristeza de seu Coração, e a oração que aí fez.
Dia 06 - O suor de sangue de Jesus, adorando-O e oferecendo-O pelas diversas necessidades.
Dia 07 - A dor que sentiu quando recebeu o beijo de Judas, pedindo-lhe a perseverança final.
Dia 08 - A prisão de Jesus, os opróbrios que então sofreu e quanto sentiu a fuga dos Apóstolos.
Dia 09 - Os opróbrios que Jesus sofreu quando foi levado à casa de Anás.
Dia 10 - A bofetada que recebeu em casa de Anás, pedindo a mansidão e humildade.
Dia 11 - Os maus tratos que sofreu quando foi levado a Caifás.
Dia 12 - O que sofreu julgado por Caifás e acusado por falsas testemunhas.
Dia 13 - O que sofreu tido por blasfemo e declarado réu de morte.
Dia 14 - As bofetadas e pancadas que recebeu em casa de Caifás, oferecendo pelos pecadores.
Dia 15 - Os escarros que recebeu, oferecendo pelos agonizantes.Dia 16 - Os insultos, blasfêmias e o escárnio com que lhe vendaram os olhos dizendo: Adivinha quem te deu.
Dia 17 - O que sofreu quando lhe arrancaram os cabelos, oferecendo pela santa Igreja.
Dia 18 - O que sofreu no cárcere em casa de Caifás, oferecendo pelas almas do Purgatório.
Dia 19 - A apresentação aos Juízes na sexta-feira de madrugada, pedindo misericórdia.
Dia 20 - O caminho à casa de Pilatos, agradecendo a Jesus seus passos.
Dia 21 - A acusação e interrogatório perante Pilatos, desagravando a Jesus.
Dia 22 - O caminho à casa de Herodes, pedindo a Jesus que guie nossos passos.
Dia 23 - Jesus tido por louco, pedindo-Lhe seu amor.
Dia 24 - O caminho à casa, de Pilatos, pedindo-Lhe a perseverança dos justos.
Dia 25 - Jesus comparado a Barrabás e julgado pior que ele. Atos de amor.
Dia 26 - A flagelação, pedindo a Jesus perdão dos pecados próprios e dos do mundo.
Dia 27 - Adorar o sangue da flagelação e agradecer a Jesus as dores que então sofreu.
Dia 28 - A coroa de espinhos, pedindo a graça de pensar só em Deus.
Dia 29 - O manto de púrpura e a cana, adorando a Jesus e desagravando-O.
Dia 30 - Os opróbrios e bofetadas que sofreu coroado de espinhos, pedindo pelos Padres.
Dia 31- Quando foi mostrado ao povo por Pilatos, e ouviu os brados: "Crucifica-O, crucifica-O!", dando-Lhe graças pelo muito que sofreu por nós.
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São José, rogai por nós!


terça-feira, 16 de março de 2010

Sobre São José- padroeiro do Concilio Vaticano II


Bem-aventurado Papa João XXIII era um grande devoto de São José. E a exemplo do papa Pio IX, que havia declarado São José como Protetor Universal da Igreja, João XXIII, na carta apostólica "Le Vocci Che Da Tutti", declarou São José como Padroeiro do Concílio Vaticano II, o qual estava começando.

Neste tríduo de São José, relembramos as palavras do Beato Papa João XXIII sobre o Concílio e sobre a importância de São José para toda vida católica renovada pastoralmente pela inspiração conciliar:

"Tudo é grande e digno de consideração na Igreja, tal como Jesus a constituiu. Na celebração de um Concílio, reúnem-se em torno dos padres as personalidades mais notáveis do mundo eclesiástico, dotadas de altas qualidades de doutrina teológica e jurídica, de capacidade de organização, de elevado espírito apostólico. Eis o Concílio: o papa no ápice e, em torno dele e com ele, os cardeais, os bispos de todos os ritos e de todos os países, os doutores e mestres mais competentes nos diversos graus de suas especializações.
Mas o Concílio é feito para todo o povo cristão que nele está interessado pela circulação mais perfeita da graça, de vitalidade cristã, que torna mais fácil e rápida a aquisição de bens verdadeiramente preciosos da vida presente e asseguram as riquezas dos séculos eternos.
Todos, por conseguinte, estão interessados pelo Concílio, eclesiásticos e leigos, grandes e pequenos de todas as partes do mundo, de todas as classes, de todas as raças, de todas as cores; e se um protetor celeste é indicado para conseguir do alto, em sua preparação e realização, aquele "poder divino" pelo qual ele parece destinado a marcar época na história da Igreja contemporânea, a nenhum dos protetores celestes poderia ser mais bem confiado do que a s. José, augusto chefe da famlia de Nazaré e protetor da santa Igreja. (...)
Oh! a invocação, oh! o culto de São José para a proteção do Concílio Ecumênico Vaticano II.(...)
Ó São José! Aqui, aqui mesmo é vosso lugar de "Protetor da Igreja universal". Quisemos apresentar-vos, através das palavras e dos documentos de nossos predecessores imediatos dos últimos séculos - de Pio IX a Pio XII - uma coroa de honra, como eco dos testemunhos de afetuosa veneração que se eleva igualmente de todas as nações católicas e de todas as regiões missionárias.

Sede sempre nosso protetor. Que vosso espírito interior de paz, de silêncio, de bom trabalho e de oração, a serviço da santa Igreja, nos vivifique sempre e nos alegre em união com vossa santa esposa, nossa dulcíssima Mãe Imaculada, num fortíssimo e suave amor a Jesus, Rei glorioso e imortal dos séculos e dos povos. Assim seja."


São José, rogai por nós!
 

São José


«Sabemos que não era uma pessoa rica; era um trabalhador como milhões de homens no mundo. Exercia o ofício fatigante e humilde que Deus escolheu também para Si quando tomou a nossa carne e viveu trinta anos como uma pessoa mais entre nós. A Sagrada Escritura diz que José era artesão.

Das narrações evangélicas depreende-se a grande personalidade humana de S. José: em nenhum momento nos aparece como um homem diminuído ou assustado perante a vida; pelo contrário, sabe enfrentar-se com os problemas, superar as situações difíceis, assumir com responsabilidade e iniciativa os trabalhos que lhe são encomendados.

Não estou de acordo com a forma clássica de representar S. José como um homem velho, apesar da boa intenção de se destacar a perpétua virgindade de Maria. Eu imagino-o jovem, forte, talvez com alguns anos mais do que a Virgem, mas na pujança da vida e das forças humanas.

Para viver a virtude da castidade não é preciso ser-se velho ou carecer de vigor. A castidade nasce do amor; a força e a alegria da juventude não constituem obstáculo para um amor limpo. Jovem era o coração e o corpo de S. José quando contraiu matrimónio com Maria, quando conheceu o mistério da sua Maternidade Divina, quando vivei junto d'Ela respeitando a integridade que Deus lhe queria oferecer ao mundo como mais um sinal da sua vinda às criaturas. Quem não for capaz de compreender um amor assim conhece muito mal o verdadeiro amor e desconhece por completo o sentido cristão da castidade.

José era artesão da Galileia, um homem como tantos outros. E que pode esperar da vida um habitante de uma aldeia perdida, como era Nazaré? Apenas trabalho, todos os dias, sempre com o mesmo esforço. E, no fim da jornada, uma casa pobre e pequena, para recuperar as forças e recomeçar o trabalho no dia seguinte.

Mas o nome de José significa em hebreu Deus acrescentará. Deus dá à vida santa dos que cumprem a sua vontade dimensões insuspeitadas, o que a torna importante, o que dá valor a todas as coisas, o que a torna divina. À vida humilde e santa de S. José, Deus acrescentou - se me é permitido falar assim - a vida da Virgem Maria e a de Jesus Nosso Senhor. Deus nunca se deixa vencer em generosidade. José podia fazer suas as palavras que pronunciou Santa Maria, sua Esposa: Quia fecit mihi magna qui potens est, fez em mim grandes coisas Aquele que é todo poderoso quia respexit humilitatem, porque pôs o seu olhar na minha pequenez.

José era efectivamente um homem corrente, em quem Deus confiou para realizar coisas grandes. Soube viver exactamente como o Senhor queria todos e cada um dos acontecimentos que compuseram a sua vida. Por isso, a Sagrada Escritura louva José, afirmando que era justo. E, na língua hebreia, justo quer dizer piedoso, servidor irrepreensível de Deus, cumpridor da vontade divina; outras vezes significa bom e caritativo para com o próximo. Numa palavra, o justo é o que ama a Deus e demonstra esse amor, cumprindo os seus mandamentos e orientando toda a sua vida para o serviço dos seus irmãos, os homens».



São Josemaria Escrivá, In. Cristo que passa, 40

terça-feira, 9 de março de 2010

OS PRIVILÉGIOS DE SÃO JOSÉ



OS CINQÜENTA PRIVILÉGIOS DE SÃO JOSÉ
“LA JOSEFINA” DE FR. JERÓNIMO GRACIÁN, (1609)



Frei Jerônimo Gracián é um carmelita descalço que, seguindo as pegadas de Santa Teresa de Jesus, escreveu sua “Josefina” no ano de 1609 para fazer um sumário dos dons e privilégios de São José. Trata-se de um livro clássico da piedade josefina de 132 páginas que, seguindo a tradição mística da época, usa símbolos um pouco estranhos para nosso tempo, palavras bonitas e até raciocínios divertidos a favor de São José.

1. José foi santificado no ventre de sua mãe.

2. José nasceu livre do “fomes pecati” e da concupiscência da sensualidade.

3. Nunca pecou mortalmente.

4. Foi confirmado em graça.

5. Em José, como fim dos patriarcas antigos, se resume todas as perfeições.

6. José é o primeiro cristão do mundo.

7. José foi eleito entre todos os mortais como esposo da Mãe de Deus.

8. José recebeu por dote de seus desponsórios os dons e talentos que são bênçãos de peitos e ventre.

9. José foi reverenciado pela Rainha do Céu a quem todos os demais reverenciam.

10. José exerceu ofício de pai, tutor, esposo, companheiro, guarda e conselheiro de Maria.

11. José é mestre e doutor porque conversou com Cristo por 30 anos.

12. José foi aio do Príncipe Celestial.

13. Padrinho por ordenação divina e revelação do anjo.

14. Tutor de quem se fez pequenino, sendo o dono do cosmos e de todo o universo.

15. São José, Pai Nutrício e “amo de leite” de Cristo Jesus.

16. Teve como súdito ao Senhor e Rei de todo o mundo.

17. Foi o primeiro a adorar, depois da Virgem, a Cristo Jesus.

18. Conservador da vida temporal de Deus, dando-Lhe comida e roupa com o trabalho de suas mãos.

19. Conselheiro da construção da Igreja, como carpinteiro experiente, já que ajudou a fazer os modelos, plantas e traços da Nova Jerusalém.

20. Foi amado de Jesus Cristo por razões gerais e algumas particulares.

21. Mereceu o renome de “justo”.

22. Soube imitar as virtudes, retidão e perfeição de Cristo.

23. São José se assemelhou, mais do que ninguém neste mundo, a Cristo e a Maria, “no semblante, palavra, compleição, costumes, inclinações e maneira de tratar com os outros”.

24. Por haver estado mais perto da Humanidade de Cristo: abraçou-O, beijou-O, falou-Lhe, O viu, conversou com Ele, etc., muito se uniu à sua Divindade.

25. Viu-se limpo do suor com as mãos de Jesus e recebeu dEle outros inefáveis regalos.

26. São José se encontrou em ocasiões de amor, nas quais, pedindo mercês a Deus, nenhuma coisa foi-lhe negada.

27. São José recebeu a graça dos sacramentos, apesar de não ter participado deles.

28. Sustentou com o próprio suor a vida de Cristo.

29. São José alcançou inefáveis regalos no trato familiar que teve com Cristo.

30. Foi bendito do Senhor, alcançando as bênçãos do Céu.

31. José fez o ofício de “anjo da guarda” de Cristo Jesus.

32. Como um “arcanjo” foi ministro das embaixadas divinas.

33. Governou a Cristo, “Anjo do grande conselho”.

34. Foi ministro do maior milagre: Deus feito menino.

35. No Egito foi instrumento de Deus para que caíssem os ídolos.

36. Excedeu às dominações em senhorio, pelo serviço do Rei e da Rainha do universo.

37. Fez o ofício de trono ao ter em seus braços a Jesus, Juiz Eterno.

38. Mereceu ser guarda do paraíso terreno, como querubim, pois guardou à Virgem soberana que é o Paraíso de Deleites com a Árvore da Vida, Cristo Jesus.

39. Teve consigo, ao propiciatório, o Rei da Bem-Aventurança.

40. Foi perfeitíssimo virgem, perfeitíssimo santo.

41. Aprendeu oração dos mais elevados espíritos: o de Jesus e o de Maria.

42. Conseguiu todos os fins da contemplação.

43. Morreu nos braços de Jesus.

44. Preparou-se para a hora da de sua morte, pois a soube com antecipação.

45. Ouviu os cantares angélicos, viu luzes e escutou música celestial dos espíritos bem-aventurados.

46. Viveu saudável: nem lhe faltou um dente e nem escureceu a vista.
47. Como precursor no limbo, adiantou as excelências do Messias prometido.

48. José ressuscitou com Cristo entre outros muitos santos.

49. Está em corpo e alma na bem-aventurança.

50. É o primeiro santo canonizado pela boca do Espírito Santo, escrevendo o processo e sentença de sua canonização os sagrados evangelistas. Então se canoniza um santo quando se declara ser justo, estimado de Deus, e haver padecido por Cristo e tido revelações, visões e bens sobrenaturais.

domingo, 7 de março de 2010

SÃO JOSÉ, UMA PATERNIDADE NA VIRGINDADE

Domenico Marafioti s.j.
[Tradução de Carla Mariza Stellato]

José, o último dos patriarcas

José é o último dos patriarcas, o ponto de passagem do Antigo ao Novo Testamento. A genealogia do Messias, "filho de Davi, filho de Abraão", como vem descrito por Mateus, conclui-se com a pessoa de "José, o esposo de Maria, da qual é nato Jesus, chamado Cristo" (Mateus, 1, 1.16). Também a genealogia, maior e mais ampla, reportada no Evangelho segundo Lucas, coloca-o em primeiro plano: quando, aos trinta anos, Jesus apresenta-se para iniciar seu público ministério, as pessoas sabiam que ele era "filho, como se acreditava, de José" (Lucas, 3, 23).

Casamento da Virgem Maria com São José

Jesus nasceu através de Maria, mas pensava-se que fosse também filho de José, porque José era marido de Maria e fez-se pai de Jesus. Esta afirmação contém todo o mistério de Jesus, filho de Davi, filho do homem e Filho de Deus – e este é todo o mistério da vida de José, chamado a colaborar aos desígnios da redenção junto a Maria e de modo diverso de Maria.

Para salvar a humanidade, Deus ao princípio chamou Abraão e a este disse: "Serão benditos todos os que vierem de ti, e aos teus descendentes darei esta terra." (Gênesis, 12, 3.7). A Davi, que queria construir um templo para que Deus houvesse uma casa em meio ao seu povo, veio a promessa: "Uma casa fará para o teu Senhor, e cuidarei depois de ti a tua descendência, e te renderei paz em teu reino." (Samuel, 7, 11-12).

Esta promessa, guardada com fé pelo povo de Israel por séculos e milênios, foi cumprida por Jesus através de José de Narazé. José pertencia à tribo de Judá e à família real de Davi, mesmo se a grandeza e a riqueza de um tempo passado fosse apenas uma lembrança, como um ramo glorioso da árvore genealógica. Agora a sua família e a sua condição financeira eram muito modestas, trabalhava para sobreviver e havia transformado-se em um hábil e reconhecido carpinteiro.

Se do ponto de vista social era uma pessoa honesta e um trabalhador comum, do ponto de vista espiritual permanecia sempre depositário da esperança de Abraão e da palavra dada a Davi pelo povo de Israel e por toda a humanidade. Ao aceitar ser o pai legal e adotando Jesus como filho, José o transmite todo o patrimônio espiritual de Israel, e Jesus transforma-se em filho de Davi, herdeiro da promessa "feita a Abraão e a toda sua descendência para sempre." (Lucas, 1,55: cf. Gálatas, 3,16).

Interpretação diversa

Vejamos como tudo isso ocorreu e como José entrou no mistério de Cristo. Os antigos imaginavam José como um viúvo, e mais tarde, com o avanço do tempo, foi aceito pelo sumo sacerdote como esposo de Maria, porque seu bastão foi milagrosamente florido, como o cajado de Aarão (cf. Números, 17, 17-24).

Queremos procurar uma explicação compreensível para a perpétua virgindade de Maria e obter uma resposta verossímel à questão do problema dos "irmãos" de Jesus (cf. Mateus, 12, 46; 13, 55). Que um homem velho observe a castidade e não tenha nenhuma relação matrimonial é facilmente admissível; e tendo tido filhos de precedente matrimônio, não é estranho que estes venham a chamar Jesus de "irmão", visto que o mesmo era filho adotivo de José.

Com este sistema, os evangelhos apócrifos, em particular o Proto-Evangelho de Giácomo e o Evangelho de pseudo-Tomás, encontraram uma solução para a dificuldade de compreender o mistério da virgindade de Maria e de José. Mas esta reconstrução dos fatos não encontra respaldo no Evangelho verdadeiro, e por isso, fora abandonada.

É possível realmente acompanhar a narração dos evangelistas de maneira mais simples e aceitar a extraordinária escolha da virgindade de Maria e José. Realizou-se uma escolha excepcional, porque ambos entraram em contato com o maior acontecimento da história: a encarnação do Verbo, onde Deus se faz homem para divinizar o homem e introduzí-lo na vida de Deus. Já S. Ambrósio avisava para não permanecer atrelhado ao curso normal das coisas humanas quando se fala de Jesus, Maria e José, e por isso não procurar o curso da natureza, de onde tudo provém – mas de algo além da natureza, porque estamos diante a obra do Criador da natureza.

Jesus, que propôs a virgindade pelo Reino, vislumbrando como se vive na eternidade, podia bem suscitar sua própria vontade nas pessoas a ele mais próximas: Maria e José. Na realidade, José entendeu a grande tradição cristã, e isso é claramente compreensível lendo o evangelho com um simples olhar. Mas a grandeza de José não está somente nisso.

Houve um verdadeiro caminho espiritual de fé, nos quais os projetos normais de um jovem encontrava-se os desígnios de Deus, sendo que a vontade divina fez mudar a escolha de vida para acolher e seguir a vocação recebida. Desta forma, José é convidado à uma progressiva conversão para adentrar no projeto que Deus havia para si. Nessa caminhada interior, ele aceita o casamento com Maria, a fazer uma família, a virgindade de Maria, o encargo de, quando Maria transformar-se na mãe de Jesus, assumir sua paternidade espiritual para recuperar nesse novo tipo de paternidade, todos os elementos familiares e sociais de uma paternidade humana normal, tudo por ele realizado, com imenso amor.

Casamento da Virgem Maria com São José

Seguimos a descrição do evangelho. Lucas disse que o anjo Gabriel foi mandado por Deus "a uma virgem prometida a casamento de um homem da casa de Davi, chamado José." (Lucas, 1, 27); o evangelista Mateus confirma a mesma coisa dizendo que Maria era "a esposa prometida de José." (Mateus, 1,18).

As coisas andaram de maneira muito simples: estamos em Nazaré, José é adulto, e como todos os jovens, também queria fazer uma família. Entre tantas jovens do lugar, uma o atraía pela sua beleza e seriedade, Maria. O pedido de casamento ao pai ou ao tutor (o evangelho não diz se o pai era vivo) fora obtido com acordo e, talvez, tenha começado a pagar o dote, como se fazia em muitos lugares naquela época, para poder portar a noiva à casa depois de um ano de noivado, e iniciar a convivência conjugal.

Maria devia conhecer José, porque Nazaré era um pequeno lugarejo e não era difícil saber notícias de um e de outro; também ela deveria estar de acordo com o noivado, porque sabia que José era um jovem sério e trabalhador. Durante o ano de espera e de preparação, os noivos podiam frequentemente ver, conhecer e querer mais e melhor um ao outro, porque os genitores não concluiriam o matrimônio se os dois não fossem satisfeitos um com o outro.

Nestes encontros, José descobre o mundo interior de Maria, e ela conhece a profunidade espiritual de José. Ele deveria já ser uma pessoa contemplativa. O evangelho apresenta a sua vida imersa no silêncio; dele, temos referências não de palavras, mas de ações. Esse amor ao silêncio não deve ser obra do improviso, mas de algo cultivado no tempo. O silêncio é sinal de interioridade, de atenção aos sentimentos mais profundos, aos valores espirituais e à oração.

É natural que José, encontrando Maria, falaria não só da família que haveriam de construir juntos, mas também de valores espirituais em que acreditava, e daquilo que havia em seu coração. Assim, mais de uma vez a conversa entre eles girava en torno da esperança de Israel, nos textos da Escritura que ouvia na sinagoga, e seus sentimentos sobre Deus. E Maria, que já era "cheia de graça" (Lucas, 1,28), de que outra coisa poderia falar senão de suas aspirações espirituais e de sua compreensão sobre os mistérios de Deus?

Na verdade, não podemos intuir o nível de profundidade do conhecimento de Maria sobre os mistérios do mundo, da história, do coração humano, da missão do povo de Israel, dela própria e de Deus. A inteligência humana é limitada pelo pecado; mas como deveria penetrar e entender os problemas, os eventos, a Escritura e o destino da humanidade uma inteligência não atingida pelo pecado original e capaz de distinguir, súbito, a verdade do erro? Isso supera a nossa imaginação, porque não sabemos como funciona uma mente humana liberta do pecado.

A escolha da virgindade

Por certo, Maria entendeu profundamente a seriedade da relação da aliança entre Deus e Israel e aquilo que pertencia exclusivamente a ele. Quem sabe quantas vezes tenha meditado sobre o primeiro mandamento: "Eu sou o Senhor teu Deus: não haverá outros deuses diante de mim." (Êxodus, 20, 2). Somente um Deus, o soberano, e eu defronte a ele! Ela era habituada a refletir sobre todas as coisas "meditando com seu coração" (Lucas, 2, 19.51).

Frequentemente, foi chamada a refletir e aprofundar sobre o Shemà Israel, a profissão de fé de seu povo, baseada na reforma do próprio primeiro mandamento constante no livro de Deuteronômio: "Escuta, Israel: O Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só. Tu amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e toda a tua força." (Deuteronômio, 6, 4-5). Estas palavras soaram com força em seu coração, e diante da grandeza de Deus, sentiu a beleza do dono desta oferta de amor.

Se, ao tempo da Revolução Francesa, uma mulher comum como santa Giovanna Antida Thouret tenha percebido o absoluto de Deus como razão de sua vida: "Deus somente!", porque não também Maria de Nazaret o teria feito no início da era cristã? Porque Maria deveria pensar como toda jovem de Israel que desejava casar-se e ter filhos, e não poderia, ao invés, colocar Deus acima de tudo e também do matrimônio?

Na profundidade de seu conhecimento espiritual, ela deve ter entendido que Deus era o único bem em sua vida presente e futura, e por ele, deixaria tudo para poder amá-lo com pureza na exclusividade do dono total de sua virgindade. Este era seu pensamento secreto, também se não sabia como poderia realizá-lo. Provavelmente, também Maria, em seus encontros com José, tenha começado a falar da beleza da família e do amor recíproco, do traçado de Deus sobre uma pessoa, sobre o povo de Israel e sobre toda a humanidade. E outro não fora a sua surpresa quando descobriu a surpreendente sintonia entre seu pensamento e o mundo interior de José!

Finalmente havia encontrado uma pessoa com quem poderia falar sobre suas coisas mais íntimas, certa de estar sendo entendida. A cada encontro, o conhecimento entre eles crescia, o compartilhamento aumentava, assim como os discursos espirituais faziam-se sempre mais precisos e profundos, aumentando a presença de Deus em seus corações. Crescia o amor entre eles, atrelado à oração; começavam a gostar da beleza de falar de Deus e de estar com Deus, e esta docilidade os atraía e unia cada vez mais.

Um certo dia, não sem uma certa hesitação, Maria encorajou-se e disse a José: "Como é belo estarmos juntos e falar das coisas de Deus! Porque, ao invés de unirmo-nos como marido e mulher, não permanecemos, juntos, na virgindade, para dedicarmo-nos completamente a Deus, de corpo e alma, passando a nossa vida na oração, na reflexão sobre a Escritura e no serviço ao próximo, amando-nos um ao outro em um único amor de Deus?" Ao final, há de ter baixado os olhos em ansiosa espera, porque se dava conta da proposta que havia feito. Mas qual não fora a sua feliz surpresa quando ouviu falar José: "Sim, Maria, é belo amar a Deus e amarmo-nos em Deus! Façamos assim o nosso matrimônio, permeneceremos virgens para amar na pureza a Deus e ao próximo."

Talvez não com estas palavras, mas de um modo semelhante foi amadurecida em Maria e José a decisão de viverem na virgindade. Esta é a constituição da primeira conversão de José: da opção pelo matrimônio à escolha da virgindade.

Uma escolha improvável?

Tantos dirão que este matrimônio virginal era impossível para uma jovem hebréia e muito mais para um rapaz. Certo, a virgindade não era um valor no mundo hebraico, como talves não o seja no mundo de hoje. Mas se isso valia para os homens e mulheres comuns, deveria sê-lo também para Maria e José? Deveriam ambos comportarem-se como todos? Deveriam ambos aceitarem os hábitos normais, nesse caso em particular, de uma lei sociológica geral?

E porque duas pessoas não poderiam ter um projeto de vida pessoal diverso de outros? Na realidade, este modo de raciocinar tende a reduzir Maria e José ao um nível comum de mediocridade humana. Ambos constituíam um casal excepcional, porque Maria era uma pessoa excepcional. Era uma jovem hebréia normal, como tantas outras, mas somente ela foi escolhida para ser a mãe do Messias, e por isso concebido sem o pecado original.

Ela, em sua plenitude de graça e devido a isso, podia pensar em um projeto de vida diverso de outras jovens, e José podia entender a beleza desse projeto. Tantos homens ao longo dos séculos cristãos puderam reconhecer, escolher e viver o carisma da virgindade. Porque José seria incapaz de fazê-lo, sobretudo se quem o fez compreender este valor era uma pessoa como Maria?

Se Maria Beltrame-Quattrocchi conseguiu ter uma convivência de perfeita castidade com seu marido Luigi após haverem tido quatro filhos, porque não é possível que Maria tivesse argumentos e motivos para convencer seu noivo? Certo que a aceitação da proposta de Maria é um indício da grande sensibilidade religiosa de José e do progresso espiritual obtido nos encontros e nas conversas com Maria. Em suas vidas estava para acontecer a coisa mais extraordinária do mundo.

Não é um absurdo pensar que este casal tenha feito uma escolha de vida extraordinária. Da condição de criaturas, Maria e José foram transferidos e inseridos como instrumentos para a Encarnação do Verbo. Tantas coisas em suas vidas são novas e insólitas, porque deveriam manifestar a novidade absoluta deste evento. Qualquer pessoa poderá dizer que este modo de raciocinar é impróprio, e que não é justo apresentar como exemplo o comportamento de santa Giovanna Antida e dos beatos Maria e Luigi Beltrame-Quattrocchi, por terem compreendido o que ocorreu entre Maria e José, porque podemos atribuir à cultura hebraica aquilo que é próprio da sucessiva vida religiosa cristã.

Porém, o contrário também é verdadeiro: os santos puderam fazer tudo o que fizeram porque viram o que foi feito por Maria, José e os apóstolos, que foram os primeiros a entrar em contato com Jesus. Mas não é uma questão cultural, mas de um encontro pessoal e de fé com Cristo. E se homens e mulheres comuns puderam compreender certos valores e fazer certas escolhas nos tempos cristãos, porque não poderiam fazer esta escolha primeiramente à chegada de Jesus em suas vidas?

A força atrativa de Jesus já era presente e operante: por isso Maria é nata sem o pecado original, em previsão do mérito de Cristo. A mesma força pôde atrair Maria e José à virgindade. Ao invés de falar da impossibilidade, melhor é firmar-se na verdade do Evangelho, porque da leitura sincera do texto sacro obtemos elementos suficientes para a confirmação da escolha da virgindade de Maria, partilhada com José.

Conversa com São José

HORA SANTA COM SÃO JOSÉ

Salve, querido São José, Pai Nutrício de Jesus e Esposo da Virgem Maria, nosso pai e Patrono da Igreja Católica!

Agora que volto o pensamento para ti, fico a imaginar como tu eras, querido pai. Não te vejo como um “velho”, como muitas vezes és pintado pelos artistas. Vejo-te um homem maduro, saudável, forte, de bela compleição física, talhado pelo trabalho duro e diário que praticavas. Olho também para tua alma. Quão bela, pura e santa não deveria ser tua alma, preparada pela Trindade Santíssima para tão nobre e fundamental missão: acolher, proteger, cuidar e nutrir o Filho Único do Eterno Pai, Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como ser o companheiro, amigo e auxiliador da Virgem Puríssima no lar de Nazaré.

Penso quão santo homem, cumpridor dos deveres, pacífico, manso, modelar, bom e religioso judeu não deves ter sido para merecerdes o belo título “varão justo”, que São Mateus te deu!
Se a Santíssima Virgem, como Mãe verdadeira de Jesus, tinha que ser imaculada, tu também, como pai adotivo do Verbo Humanado, tinhas que ser um homem muito santo, visto que encabeçarias aquela casa sagrada, pedaço do Céu sobre a terra!

Além do mais, ó santo varão de Deus, tu serias o próprio representante do Eterno Pai, assumindo a figura e função de pai perante os teus parentes, amigos e diante de toda a sociedade judaica. Jesus mesmo, Filho Eterno de Deus Pai, muitas vezes foi nomeado e reconhecido como o “filho de José” ou “filho do carpinteiro”. Somente um homem como tu, completamente consagrado e dedicado a Deus, poderia ser capaz de assumir essa missão. Por isso, com toda a Igreja, creio e confesso que fostes castíssimo e virginal em toda a tua vida e convívio com tua esposa Maria, Mãe de Deus, por quem nutrias profundos sentimentos de amor puríssimo, respeito, veneração e reverência!
Ó São José, quão bela não deve ter sido tua vida, feita de muitas alegrias mas também de trabalho, lutas e dores!

Imagino o que sofrestes quando começastes a perceber que tua santíssima noiva, Maria, apresentava nítidos sinais de gravidez! O que pensar de tua amada Maria? Como julgá-la ou condená-la já que estavas plenamente convicto de sua fidelidade, pureza e virgindade consagrada? Porém, tu não eras um tolo e bem sabias como uma jovem engravida... Que dolorosa batalha não deve ter sido travada em tua alma! Qualquer um imediatamente já teria pensado o pior e apresentado Maria ao repúdio e condenação públicos! Mas não! Foste heróico, preferiste fugir, abandonar teus compromissos, jogar teu nome na lama e cair em desgraça perante os cidadãos de Nazaré do que ousar macular o bom nome e consideração de Nossa Senhora! Foste um verdadeiro herói! No auge do sofrimento, no teu “calvário” particular, Deus te envia um anjo para te consolar e te confirmar na fé. A tua Esposa Virginal esperava o Tesouro dos tesouros, o Esperado de Israel, o próprio Messias prometido!
Ó São José, como não deves ter ficado feliz! Também, quanta confusão e santo temor em tua alma! Talvez tenhas pensado: “como Deus se dignou escolher-me, pobre carpinteiro, para ser pai adotivo”? Quantas lágrimas de júbilo e amor não deves ter derramado em tuas preces e na serena contemplação de tua Esposa gestante, a Arca da Nova Aliança! Ali, diante de teus olhos, todas as Escrituras estavam se cumprindo. Ali, a esperança dos santos patriarcas e profetas! Ali, a salvação de Israel!

Os dias se passavam... Tua casa sendo preparada com amor e desvelo para a chegada do Messias bendito. Com certeza construístes com tuas próprias mãos um gracioso berço para acolher Aquele cujos Céus não podem conter: o Senhor e Rei do Universo! Porém, Deus Pai mais uma vez testa a fibra de seu santo varão: chega a Nazaré a ordem do imperador romano. Todos tem que sair de suas casas e empreender viagem para suas cidades de origem.

Qual “novo Abraão” tu não reclamas da ordem – “sai de tua terra” – e confias em Deus. Tu não exiges nada Dele, como muitas vezes fazemos em nossos problemas e dificuldades. Todos os teus planos familiares são desfeitos e preparas a brusca saída. Observas que tua Santíssima Esposa já se encontra em gravidez avançada, esperando a qualquer momento o nascimento do Salvador, porém, não murmuras. Tu vais a Belém, terra natal do rei Davi. No caminho deve ter vindo à tua memória a profecia de Miquéias: “E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo (Miquéias 5,2)”. Tua alma deve ter sossegado. Estavas em paz. Deves ter pensado: “nossos amigos e parentes certamente nos acolherão”. Ó São José, Deus já lhe preparava uma nova e dura prova! Já sabias, de acordo com as profecias de Isaías, que o Messias seria o Servo de Javé, o Servo Sofredor, porém jamais imaginarias o quanto era necessário que Jesus nascesse em total pobreza, humildade e praticamente oculto de todos! Sei que não acreditavas e nem esperavas um “messias guerreiro”, como os demais judeus, porém aquela prova era dura e humanamente incompreensível. Sim! O teu Jesus, Deus e Senhor, foi colocado numa manjedoura, em palhas, entre animais! Como deves ter feito tudo para reparar a frieza da humanidade diante da vinda de seu Remediador com atos heróicos de amor, reparação, louvor e adoração! Teu coração puríssimo estava em uníssono com o Coração Imaculado de Maria. Como teus olhos não devem ter vertido lágrimas generosas de amor e emoção contemplando o Divino Infante, o Emanuel, bem ali, diante de ti, frágil e pequeno, precisando dos teus cuidados e dos de Maria! Ó mistério da graça: naquele momento, tu e Maria eram o novo Céu de Jesus!

Fatos maravilhosos foram sucedendo-se: o canto dos anjos, a visita dos pobres e simples pastores, a adoração dos magos do oriente, a cerimônia da circuncisão no qual o Menino foi marcado na carne como membro do povo de Deus, derramando seu Sangue pela primeira vez, a cerimônia de nomeação do Menino com aquele Nome Santíssimo revelado pelo anjo na Anunciação e em teu sonho revelador, nome esse dado por ti, São José, como pai putativo de Jesus e a apresentação daquele preciosíssimo dom a Javé no templo de Jerusalém. Quantos momentos felizes, não foi São José? Estavas certamente cheio de júbilo, como bom e religioso judeu como eras por tão belos acontecimentos!
Porém, mais uma prova se aproximava... A profecia dita por Simeão a Maria Santíssima se cumpriria: a vida de Jesus começava a manifestar que seria sempre marcada pela incompreensão, não aceitação e perseguição por parte de muitos.

Estavas tranquilamente dormindo. Tudo parecia estar em paz. De repente um anjo lhe avisa em sonhos: “pegue o Menino e sua Mãe e vão para o Egito, pois Herodes procura matá-lo”! Ó querido São José, quanta dor para um coração como o teu: doce, meigo, cândido e sensível. Como não deves ter acordado “de um salto”, o coração a bater disparado com essa notícia! Quantos “porquês” não deves ter dirigido ao Senhor, não com revolta, mas como um pai zeloso com a segurança do filho Jesus.

Duro exílio! Mais uma vez a história de Israel é revivida na Pessoa de Jesus. A Sagrada Família vai para o Egito. Que se passou por lá? Que fatos lhes ocorreram em sua estada naquelas terras? Não sabemos. Os Evangelhos se calam. Talvez em sinal de silencioso respeito e penitência por essa desfeita dirigida ao Filho do Homem, à sua Mãe e pai adotivos: terem que fugir para terras estranhas para escapar da morte. Uma coisa podemos concluir pai São José: certamente continuastes a servir ao Senhor Deus com o teu trabalho, com tua oração constante, com tua paciência e com tua fé e confiança inabalável na Providência Divina. Quanta glória, quanta satisfação não proporcionastes a Deus com tua vida e comportamento exemplares! Quantos méritos, São José, quantas graças para serem derramadas no mundo por suas mãos! Estavas sempre unido a Maria no serviço do Senhor: na oração, no trabalho e na adoração contínua ao mistério do Verbo Humanado que habitava contigo sob o mesmo teto e estava sob teus cuidados de pai!

O tempo foi passando, na simplicidade de tua vida doméstica e de carpinteiro. Muitas vezes penso, São José, no quanto teu trabalho era feito com esmero. Não sei se eras um “gênio do trabalho em madeira”. Isso não me importa. O que sei é que tudo fazias em espírito de oração, colocando naquilo que fazias para sustentar e alimentar Maria e Jesus todo o teu amor e carinho. Arrisco-me até a pensar que aquelas mesas, cadeiras ou móveis que construías, quais relíquias santas que eram, já portavam consigo algo da graça de Deus como o fazem os sacramentais da Igreja. Penso que ao lado de cada objeto desses ficava de “plantão” um anjo em atitude de veneração. Tu já eras um santo, um grande santo quando estavas na terra. Além do mais, também aqueles objetos tinham sido feitos por Jesus, Nosso Senhor, o Criador do Universo, não por um ato divino de Seu poder infinito, mas como homem verdadeiro que era.

Creio também que eras um homem muito bem quisto na cidade egípcia que escolhestes para morar. Como devias ser um bom judeu, bom vizinho, um exemplar membro da comunidade, um homem que vivia perfeitamente as bem-aventuranças futuramente pregadas por Jesus. Eras um homem da paz, da mansidão, da pobreza de espírito, da pureza e da misericórdia. Quantos não deves ter tocado com o teu bom exemplo e palavras de conselho. Não fostes um rabino ou pregador de púlpitos, porém o teu olhar, o teu sorriso, tua voz certamente tocaram os corações endurecidos de muitos. De ti irradiava aquela graça da qual o teu coração estava cheio. Tuas orações feitas com Jesus e Maria, no lar sagrado, eram ungidas e chegavam cheias de gozo e méritos no seio da Trindade augustíssima. Sim, estavas unido ao teu filho Jesus em Sua missão salvífica. Será que depois, no futuro próximo, quando algum apóstolo ou discípulo de Jesus chegou para evangelizar aquele país já não encontrou doces recordações de tua passagem por lá? Sei que são especulações que jamais saberemos neste mundo, porém não impossíveis.

Bem, um belo dia, lá no Egito, mais uma vez o anjo veio falar contigo em sonhos. Perguntava-me: por que o anjo não dava seus avisos a Maria? Por que só aparecia para ti em sonhos? Consideremos a primeira pergunta. Realmente, na ordem da graça, Maria supera-te imensamente, por ser Mãe verdadeira de Deus e Rainha de tudo que foi criado por Ele. Porém, naquela casa, tu eras o chefe, o guardião, o tutor do Menino Deus. Agora compreendo bem que era para ti mesmo, glorioso São José, que todo respeito e todo assunto de ordem familiar, isto é, no que tocasse a decisões e diretrizes a serem tomadas na casa, eram de tua responsabilidade. Isso não sou eu que digo. O Céu mesmo manifestou isso claramente quando enviava um anjo em sonhos só para ti. No tocante a segunda pergunta, creio que o método de aparições “em sonhos” eram uma escolha divina. Somente cabe a Deus a explicação exata disso. Porém arrisco um palpite, se o senhor, São José me permitir.

Tu eras o homem da humildade e da vida espiritual escondida, somente conhecida pelo Senhor e por Maria. Já vivias continuamente unido a Ele em cada momento, no trabalho, na oração e nos cuidados do lar. Não tinhas tempo para “interrupções” causadas por aparições nem mesmo angélicas. Além do mais, nas ocasiões em que um anjo foi-te enviado, era para avisar que necessitavas sair logo, imediatamente, às escondidas, na madrugada, sem que ninguém notasse ou percebesse. Se a notícia da partida fosse anunciada “de dia” ou “de tarde”, passarias o resto do dia preocupado, interromperias o teu trabalho e oração e certamente a notícia “vazaria” para os vizinhos, como dizemos hoje em dia. Não iria dar certo, não é, São José? Será que estou errando muito com essas minhas conclusões?

Bem, continuando, finalmente voltas para Nazaré! Herodes, o cruel rei da Judéia, agora recebia a justa punição por tantas crueldades. Empreendes o caminho de volta, trazendo o Cristo, o “novo Moisés”, do Egito. Tudo para que se cumprissem as Escrituras Sagradas. Voltas para tua querida Nazaré, para tua casinha santa. Quantas saudades! Quantas lembranças! Lágrimas generosas derramam-se de teus olhos. Quanta alegria por parte dos teus parentes e amigos! Sim, tu eras querido, São José! Como não querer-te bem? Imagino-te amado por todos! Tua santidade impunha respeito, veneração e comoção. Moços, velhos, mulheres e crianças têm por ti grande apreço.

Com grande alegria e, diria, “santo orgulho”, tu deves ter apresentado o teu amado Jesus a todos e cada um de teus parentes e conhecidos. “Como é belo, robusto e de boa altura esse menino!”, alguém disse. “Vejam o filho de José, como é bem comportado e educado!”, alguém exclama. “Também, puxou o pai!”, alguém completa. Certamente, no pensamento de todos terá ocorrido o seguinte pensamento: “feliz és tu, José, por tão bom menino; dar-te-á muitas alegrias!”. Falavam profeticamente das imensas e incalculáveis alegrias eternas de que um dia gozarias, no Céu, ao lado de Jesus...

Em Nazaré, bem cedo começastes a levar o Menino à sinagoga. A Torá, o Livro da Lei, e os livros dos profetas eram lidos e comentados com respeito e veneração. Ali, contigo, São José, estava o próprio Iahweh, o Adonai altíssimo! Tu bem sabias disso. Mas calavas... Tu silenciavas e meditavas. Mais uma prova de tua santidade!

Tu eras um homem do trabalho, ó José. Ali, em tua casa, funcionava a tua oficina, o local sagrado de onde tiravas o sustento de Jesus e de Maria. Jesus deve um dia ter-te dito: “pai, ensina-me o teu ofício de carpinteiro”. Ó São José, mais uma vez o teu coração deve ter sido invadido pela emoção e confusão: “Como? O Criador do Céu e da Terra me pedindo que eu Lhe ensine como trabalhar a madeira”? Jesus, “adivinhando” os pensamentos do santo pai, deve ter respondido: “que toda a vontade de meu Pai Celeste seja cumprida”. Percebendo então, nas palavras de Jesus, que assim era para ser, aceitastes a tarefa ensiná-Lo o ofício na carpintaria. Assim, naquela casa de Nazaré, transcorreu uma das mais belas páginas na vida de Jesus: Ele, o próprio Deus do Universo, “aprendendo” humildemente a fazer mesas, bancos e cadeiras. Como seremos capazes de entender toda a simplicidade de nosso Deus? Em Jesus, o Deus infinito torna-se pequeno, Deus imortal torna-se passível, Deus eterno torna-se presente no tempo, Deus riquíssimo torna-se pobre! Tento imaginar, São José, a profundidade de tuas meditações, no tocante a esses fatos, e não consigo. Vias Jesus igual a nós em tudo, menos no pecado. Jesus comia, dormia, banhava-se, trabalhava, suava, calejava as mãos, etc. Transbordava em santidade, porém, ocultava sua infinita glória. Tudo era mistério! Porém, tu acreditavas plenamente nEle, mesmo sem teres visto nenhum dos inúmeros prodígios que Ele realizaria em sua futura vida pública. “Felizes aqueles que crêem sem ter visto!” (João 20, 29b), dirá um dia o Senhor Ressuscitado a São Tomé. Será que Ele não pensava em ti, fidelíssimo José, naquele momento?

Tua família era muito religiosa. Tu eras um santo judeu, praticante da Lei, por amor, cumpridor de teus deveres. Jesus, como todo menino e pré-adolescente judeu, foi educado por ti na fé judaica, especialmente na leitura orante da Torá, na participação do culto e cerimônias prescritas por Moisés. Aproximava-se o dia do “Bah-Mitzvah” de Jesus, dia no qual o jovem é examinado sobre seus conhecimentos relativos às Escrituras Sagradas, conhecimento esse obrigatório a todo homem judeu. Com quanta alegria não deves ter preparado a ida da Família Santíssima a Jerusalém! Jesus, agora com doze anos, seria finalmente interrogado pelos doutores da Lei de acordo com os costumes.
Creio, São José, que em nenhum momento esboçastes “autoconfiança” no sucesso de Jesus. Tua humildade era imensa e sabias que Jesus, como as demais crianças de Israel, se comportaria como elas no momento do teste. E assim foi. Jesus respondeu às perguntas feitas pelos sacerdotes e escribas a respeito da Lei. Deves tê-lO abraçado cheio da alegria! Jesus tinha sido admitido plenamente ao culto na sinagoga. Hinos de louvor e adoração à Pessoa do Pai Eterno devem ter sido entoados por ti, por Maria e pelo divino Menino Jesus. Toda a Sua Vontade estava sendo cumprida na vida da Sagrada Família.

Prepara-se a volta para Nazaré. Como era costume naquela época, os homens e as mulheres se dividem em caravanas separadas para a viagem. As crianças escolhiam se vinham com as mães ou com seus pais. Jesus não estava contigo, São José. Certamente pensastes: “está com Maria”. Empreendestes caminho tranquilamente, ainda louvando a Iahweh pela maravilhosa visita ao Templo que fizestes com tanta devoção. Porém, à noite, quando as famílias novamente se juntavam para o jantar e para o descanso, eis que vem a Virgem Santíssima perguntar-te por Jesus. Difícil é para nós avaliar e quantificar o susto, o desalento e a angústia sentidos por ti e por Maria ao perceberem que Jesus não estava nem com um e nem com outro. O que deves ter pensado: “Ó Maria, o que aconteceu? Onde falhamos? Por que isso nos está acontecendo? Será que alguém está com Jesus? Será que algo de mal lhe ocorreu?” Entre lágrimas e soluços procurastes pelo Menino em todas as caravanas, voltastes a Jerusalém, fostes na casa de algum conhecido. O Evangelho de São Lucas nos fala que procurastes por Ele durante “três dias” (Lucas 2, 46). Finalmente, acharam-nO no Templo, “sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os” (Lucas 2, 46). Não era mais o Bah-Mitzvah. O Pai incumbira Jesus de manifestar aos homens sua sapiência extraordinária de Filho de Deus e Sabedoria Encarnada. Jesus, humanamente falando, bem sabia de teu sofrimento bem como o de Maria, no tocante a seu aparente “desaparecimento”, porém, Deus Pai queria manifestar a ambos o quanto Jesus era dEle e vindo ao mundo para fazer Sua Vontade Eterna. Diante da indagação de Maria, Jesus responde com uma aparente “secura” o conhecido “por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (Lucas 2, 49) manifestando, qual Mestre que é, o quanto por vezes a Vontade do Pai é incompreensível e até dolorosa, porém necessária e importante de ser cumprida. O que Jesus perguntou ou respondeu àqueles sábios e doutores da Lei, não o sabemos. O evangelista se cala. O que importa é o que ele coloca a seguir: que o senhor, São José, e Maria Santíssima, naquele momento, “não compreenderam o que Ele lhes dissera”. Porém, que “em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens (Lucas 2, 50-52) ”. Isto é, que passada aquela prova de fé e de confiança nos desígnios divinos, a Sagrada Família retornou à sua “rotina” de vida santa em comum, na qual Jesus era plenamente submisso e obediente a ti, bem-aventurado José, obtendo com isso infinitos méritos perante Deus Pai.

O tempo “voa”. Jesus cresce a cada dia. Torna-se um belo jovem e aproxima-se de sua idade adulta. Percebes, São José, o quanto Ele vai ficando “diferente”. Jesus intensifica seus momentos a sós com Deus Pai, ficando horas a fio em profunda oração. Sabes muito bem que Ele é o Messias e o teu santo coração aperta em dor. Sabes que Ele irá sofrer muito e ser rejeitado, porém, tua sensível alma desfalece de dor ao pensar em tais coisas. “Como suportarei isso, Maria, como suportarei ver Jesus sendo desprezado e escarnecido pelos homens?”. Maria te ouve e chora. Sim, Deus nosso Pai bem sabe que tu não tens condições de ver o teu amantíssimo Jesus passar pelo que Lhe espera.
A “solução” não se faz esperar. Jesus já tem em torno de vinte e nove anos. Começas a apresentar sinais da derradeira doença. Ó São José, quando me recordo das vezes que a doença ou a provação bateu em minha porta, envergonho-me. Comparado a ti, quem sou eu, santo pai? Moravas com Jesus, Deus do Universo, e com Maria, Mãe de Deus. Bem podias pedir por tua saúde ou pedir que nunca sofresses, porém, nada disso ocorreu. Recebes a doença, a fraqueza física, a cruz cotidiana, não como um “castigo” ou “maldição”, como dizem muitos que se denominam cristãos, seguidores do Crucificado, sem verdadeiramente ser. Tu acolhes a doença como um dom de Deus, como uma oportunidade para dar glória e honra a Ele e como um meio de santificação ainda maior.

Ficas doente. Jesus mesmo veio ao mundo para nos salvar e curar, especialmente do pecado, e para sofrer conosco a nossa própria dor, exercendo sua misericórdia infinita, isto é, colocando em Seu Coração Santíssimo todas as nossas fraquezas, doenças e pecados. Assim disse o profeta Isaías: “em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos...” (Isaias 53, 4). Assim, como teu Salvador misericordioso, Jesus coloca-se diuturnamente a teu lado, em teu leito de dor e contigo ora ao Pai. Certamente nosso Salvador ofereceu, entre lágrimas de amor, de gratidão e de saudade, toda a tua vida ao Pai Eterno. Eras uma das primícias de sua morte e cruz que futuramente ocorreriam. Maria Santíssima, também, imbuída de sentimentos de profundos de amor e gratidão por ti, bem-aventurado santo, deve ter derramado copiosas lágrimas por causa de tua partida que se aproximava. Tu, consolado pela presença de teus infinitos amores, ardendo em chamas vivas de caridade, entoava hinos ao Senhor Deus de Israel que se dignou escolher-te como co-partícipe em Sua obra redentora. Assim, glorioso São José, por causa de teus muitos merecimentos e por causa da presença santificante de Jesus e de Maria, angarias da Trindade Santíssima o glorioso e consolador título e missão de “Padroeiro da Boa Morte”. Desde já, São José, encomendamos a ti o momento de nossa morte. Não sabemos, glorioso santo, onde, quando ou como ela virá. Pedimos apenas que seja na companhia de Jesus e de Maria e também da tua, São José.
Assim, após expirares entre os louvores das multidões angélicas, por elas és levado à mansão dos mortos, para o seio de Abraão e para o convívio dos Patriarcas, dos Profetas e dos demais justos da Antiga Aliança. Penso com que grande alegria essas almas não devem ter te recebido. Para elas tu eras como que um luminoso farol a lhes apontar a iminente saída daquele local de espera.

Ó São José, justo varão de Israel, homem santo e bondoso, tu és nosso pai, nosso tutor e poderoso intercessor perante Jesus e Maria. Sede sempre nosso auxílio, em todos os perigos e necessidades. Livrai-nos dos ataques do maligno, do pecado e do perigo de nos perdermos. Rogue por nós, agora e na hora de nossa morte! Rogue por toda Igreja Católica, a ti confiada pelo papa e rogue pelo mundo inteiro, tão amado por Deus. Amém, amém, amém!

Giovani Carvalho Mendes, ocds
Comunidade Rainha do Carmelo (Fortaleza-CE)